segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

novo ano, novas aplicações


«Enquanto fenómeno estético, a existência conserva-se-nos suportável, e a arte dá-nos os olhos, as mãos, sobretudo a boa consciência que é necessária para poder fazer dela este fenómeno por meio dos nossos naturais recursos. É preciso de vez em quando descansarmos de nós próprios, olhando-nos de alto, com o longínquo da arte, para rir ou para chorar sobre nós: é preciso sermos felizes com a nossa sageza!
E é porque, precisamente, no fundo somos pessoas pesadas e sérias, e mais pesos do que homens, que nada nos faz melhor do que o ceptro de guizos: temos necessidade dele perante nós próprios, precisamos de toda a arte petulante, flutuante, dançante, trocista, infantil, satisfeita, para não perder essa liberdade que nos coloca acima das coisas e que o nosso ideal exige de nós.
Seria para nós um recuo - e precisamente em virtude da nossa irritável lealdade - cair inteiramente na moral, e tornarmo-nos, por amor das superseveras exigências que nos impomos neste ponto, monstros e espantalhos de virtude. É preciso que nos possamos também colocar acima da moral; e não somente com a inquieta rigidez daquele que receia a todo o instante dar um passo em falso e cair, mas com o à-vontade de alguém que pode planar e zombar por cima dela! Como poderíamos, nesse campo, dispensar a arte e o louco?

...E enquanto mantiverdes ainda, seja no que for, vergonha de vós próprios, não sereis capazes de ser dos nossos.»
Frederic Nietzsche

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